quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Mãe África



As crianças somalis... Precoces esqueletos. 29.000 crianças com menos de cinco anos morreram de fome nos últimos cinco anos.
Pertenço a uma geração que sonhava alto, muito alto. Íamos salvar o mundo! Naquela época era no Biafra que crianças morriam de fome. Eu recortava imagens de revistas e jornais e as guardava para mostrá-las um dia à minha filha para que soubesse como era o mundo quando ela era apenas um bebê. Estava segura (tão segura!) que a vida no futuro seria outra, afinal para isso lutávamos!
40 anos atrás! E as imagens se repetem. O mesmo grito escancarado, o mesmo olhar que pergunta: por quê?! Igualzinhos os ombros exíguos que mal sustentam a cabeça; a mesma pele enrugada e os vincos de ancião no rosto do que deveria ser um bebê risonho. Nos anos 80 cantamos “We are de world”, canção assassinada, anos depois, por uma integrante de uma das edições de um reality show, ridicularizada pela mídia. Ironicamente a participante era afro descendente.
Em vários sentidos, o Ocidente deve à África.
Quero lembrar aqui uma das dívidas.
O reconhecimento da arte africana se deu no começo do século XX, quando os artistas perceberam que estavam diante de uma nova forma de expressão, de liberdade de criação e de análise formal. O Cubismo de Picasso e Braque, Gris, Léger e outros, a arte mais cerebral do Século XX, inicia sua escalada com o quadro alucinante “Les Demoiselles d´Avignon” (1907) de Pablo Picasso, o primeiro quadro moderno de nosso tempo. Nessa obra, a influência das máscaras negras é definitiva. A escultura africana ensina a Picasso como deformar os corpos para criar uma estrutura homogênea entre as massas, inventando novas formas, como as dos artistas do Continente Negro.
Não somente o Cubismo, Fovismo e tantos “ismos” do começo do século XX, têm um débito com a arte africana, mas a música de Stravinskij, Prokofiev e Bartock.
Mas se houve por parte dos artistas europeus o reconhecimento do valor artístico da arte africana, não houve um aprofundamento sobre seu significado. As máscaras estão nas entranhas das cerimônias religiosas, casamentos, nascimentos, decisões bélicas, funerais, ritos de iniciação e cura de doentes. A máscara é uma “persona” mística que pode dar, a quem a usa, poderes que sem ela não teria. O artista que as produzia também usava uma máscara enquanto realizava a tarefa. Afastava-se dos povoados e adentrava na mata cumprindo uma série de rituais. A pureza do artista enquanto trabalhava era condição indispensável para o bom resultado da empreitada. Uma vez realizadas as obrigações e empunhada a faca para esculpir, tinha liberdade absoluta para criar.
As máscaras não são objetos de decoração ou curiosidade para serem espalhadas como elementos decorativos das residências. Quando colocadas nessas condições, acusam a ignorância e o desrespeito da cultura branca materialista pela cultura do sagrado.

Um comentário:

  1. Concordo. Essa invisibilidade posta a toda África.
    Falseamentos de sua história e o não reconhecimento de suas personalidades,ou negação dos mesmos.
    Beth ferreira

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